O Cuidado que Faltava

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O Cuidado que Faltava

Moacyr Castellani – Publicado em: Estado de Minas

“É melhor prevenir do que remediar”. Este é um dos ditados populares mais corretos. Em matéria de saúde, o cuidado com o organismo é essencial. Mas, para prevenir, é necessário antes se informar. Isto torna-se óbvio na campanha, por exemplo, da luta contra a AIDS. Informação é vital.

É por isso que governos, instituições e entidades apressam-se em divulgar toda e qualquer nota sobre as formas de contágio, sintomas, atitudes de risco e maneiras de se prevenir contra o HIV. A sociedade se mobilizou no sentido de conscientizar o cidadão sobre o perigo de uma das doenças mais trágicas dos novos tempos.

Verbas milionárias são gastas em campanhas, sobretudo na televisão: comunicação de massa é vital para divulgar os cuidados necessários para se evitar o contágio. Preservativos, seringas descartáveis, cuidados especiais com a manipulação de sangue, exames periódicos agora estão na ordem do dia. Todo cuidado é pouco diante de tão devastadora epidemia.

Mas uma questão permanece intrigante. Apesar de tamanha informação, por que uma boa parte da população ainda se expõe ao risco de contágio? Mesmo sabendo dos perigos da contaminação, por que muita gente não toma as devidas precauções?

Em 1997, o GAPA/MG realizou uma pesquisa com 1162 alunos da rede municipal para levantar, entre outros aspectos, o perfil da vida sexual destes adolescentes. Dentre várias informações, dois dados se mostraram alarmantes: dos adolescentes com vida sexual ativa que se preocuparam em evitar o contágio com o HIV (533 adolescentes), apenas 46% (246 adolescentes) fizeram uso de preservativo, embora somente 7,5% (46 adolescentes) o fizeram de forma adequada .

Informação é vital, mas não basta. Postura também é vital. Em matéria de prevenção, não basta saber como se prevenir. É preciso, acima de tudo, querer.Informação é vital, mas não basta. Postura também é vital. Em matéria de prevenção, não basta saber como se prevenir. É preciso, acima de tudo, querer.

Isto significa que nem sempre o ser humano toma uma postura consciente diante da possibilidade de contrair uma moléstia como a AIDS. Muitas vezes o indivíduo é movido por conceitos superficiais ou fantasiosos. Rebeldia, vaidade, poder, ingenuidade deliberada e reconhecimento grupal são comportamentos comuns a pessoas que, embora informadas sobre os riscos, exploram o prazer irresponsável. Sabem dos perigos e conseqüências, embora não querem acreditar na possibilidade de serem as vítimas.

É necessário informar, mas também formar o indivíduo. É preciso desenvolver senso de consciência e responsabilidade. É fundamental que o cidadão tenha a possibilidade de aprender não apenas sobre funcionamento do organismo ou prevenção de doenças mas, essencialmente, sobre postura e comprometimento, sobre o desenvolvimento de sua própria personalidade.

Este é o novo desafio: desenvolver o senso crítico do cidadão. Prevenção existe com consciência. Entender as influências externas a que estamos expostos é básico, mas refletir quanto à maneira mais adequada de lidar com estas influências é essencial.